terça-feira, janeiro 18, 2011

Que droga é essa?

Por motivo de força maior, tenho acompanhado notícias, filmes e conteúdo relacionados a drogas nos últimos tempos. Isso explica eu ter acessado um link postado no Twitter hoje por alguém que eu sigo e agora não me lembro (pausa: demorei 20 minutos pra achar o link de novo. Quem postou foi o twitter.com/thiagokazu).

Mas vamos lá: o vídeo abaixo é simples. Duramente simples. Mostra os dois últimos anos de vida de um homem inglês viciado em heroína. Enquanto muitos se entregam apenas à droga na fase final de uso, já próximos da morte, Ben decidiu registrar sua fraqueza. Não sabia que morreria - mas talvez pressentisse que algo ruim estivesse para acontecer.

Não entendi muito bem, mas acho que depois a família (ou algum canal de TV) terminaram o serviço. Ben morreu e usaram as imagens dele para compor um documentário contendo entrevistas com familiares, amigos e ex-companheiros de vício (aprendi que há uma grande diferença entre "amigos" e essa classe de usuários que se dizem amigo pela afinidade nas drogas).

Você talvez estranhe as lacunas de informações do post. É que não aguentei assistir até o final, nem me interessei em saber mais sobre o doc. Ainda. É que quando assisti rolou meio que uma overdose do assunto - e o trocadilho é intencional. A gota d'água pra mim foi a hora em que ele tomou metadona, Diazepam (o sossega leão usado por médicos para aplacar crises de abstinência) e ainda inalou heroína. Apertei o pause, fechei a aba e decidi retomar o assunto só agora, já em casa.

Se estiver afim, assista abaixo, dividido em partes. Postei apenas a primeira, mas as demais aparecem em galeria depois que o vídeo termina. Mais infos (escritas) sobre o projeto aqui.





P.S.: O tema "drogas" será recorrente por aqui nos próximos tempos. E já adianto o pedido de desculpas por isso. Depois de março paro - e até lá vai dar pra entender o porquê.

segunda-feira, janeiro 10, 2011

Segunda

Trrim, trrim, trrim.
8h00 e o mundo te chama pra luta.
Você enrola 23 minutos e ele promete revanche.
Não se faz de rogado: prepara café, torradas, escolhe a geleia mais gostosa para combinar com o cream cheese.
Lava a louça, toma banho, se troca. Fica pronto, acaricia o cachorro para aplacar a vontade que ele tem de descer para fazer xixi. Não dá tempo.

Ela acorda. "Ih, to atrasada."

"Te dou carona. Vamos?"
"Sim."

"Desce, vira à direita. Hmm... Pode virar à direita aqui, amor. Ok. Bom, agora você vai cruzar a avenida e me deixar lá em cima. Eu vou prum lado, você desce pro outro. Vai dar na praça, sabe?"
De lá já sei o caminho. O carro, então, nem se fala. Quase dirige sozinho.

Primeira, segunda, terceira, quarta. Farol. Primeira, segunda, terceira. Breca, bozina e pensa: "filho da puta".
Não, mas tá cedo, xingar ainda não. Se acalma. "Ih, tenho que rezar, não rezei hoje antes de sair de casa - e ó, dia que não reza antes de sair de casa não pode dar certo. Ih... tá."

"Bom, hoje eu quero proteção, anjo da guarda: te vira que o chumbo é grosso e o dia só tem 24 horas. Pro chefe, trabalho bom é trabalho pronto. Então corre daí que eu corro daqui."

Estaciona o carro. "Ih, não terminei de rezar. Ok, vou pagar o mico de rezar no carro, no estacionamento do trabalho. Não, né? Bom, vamos lá... Ih, lá vem. É alguém conhecido." Estaciona do lado. Suspende a reza que senão o mico é bravo.

"Ooooi, tudo bem?"
"Tudo, e você?"
"Tudo. Bom, vou ali pegar uma coisinha pra comer."
"Ah, tá bom. Vou junto."
"E a matéria? Como tá lá?"
"Tá legal, e lá?"
"Lá tá também."
"Chegou cedo."
"É, a chefe tá de férias."

Alguém tem que olhar...

Sento. Ligo o computador. Emails não lidos. Revistas não lidas. Jornais não lidos. Sou, nesta manhã, o homem mais mal informado do mundo - segundo eu mesmo, versão super ego. Vamos lá. Lê uma, lê a concorrente. Ok. Menos mal informado.

Dez ligações pra fazer. Uma. Ocupado. Duas. Ocupado. Três. "Ah, me manda e-mail e vejo o que posso fazer." Mando e-mail.
Faltam sete ligações. Já passaram duas horas.

Tem texto pro blog hoje. "Quem vai fazer?", penso.
"Ih, ok, eu faço.", respondo, uns minutos depois.

Almoço. Tem que ser rápido: faltam seis ligações. Um post pro blog. "Ih, preciso falar da outra matéria com o chefe. Ai meu Deus. Não vai dar tempo. Vai ter que dar."

Fim do almoço. Emails não lidos. Mais ligações. Ih, o lance do prêmio. "Precisamos da declaração até amanhã, querido": é o recado no email. A despeito da cordialidade, soa como ameaça.

Mais ligações. Piadinhas entrecortadas. Só entendo metade, rio de todas e é isso aí. Silêncio.
EMAIL NOVO: bar hoje?
A ele se seguem outros sete, encerrados com "to dentro", "contem comigo", "u-hu" e ";)".
O emoticon me ajuda a decidir: eu-não-vou, não-to-a-fim.

Esquece os emails do bar. Tem aquele post pro blog, cinco ligações, umas duas entrevistas.
"E aquela foto?"
"Qual das três que eu tenho que agendar?"
"Nenhuma delas, é a-que-la-outra."
"Ih, tá, logo mais vejo isso."
Ficou pra amanhã.

Liga. Não atende. Liga. "Pode me ligar de novo em 20, to dirigindo?"
Pausa prum café. Troca de novidades e alguma melancolia.

Volta pra mesa.
Liga. "Ela no puede hablar ahora. Deixa recado." Meu telefone: soletro número a número, num português argentinizado.
Liga. Não atende. Liga. "Ah, hoje não posso. O dia, olha... Uma loucura." "Quarta?" "Quarta pode ser." "Então até lá."
Liga. Não atende.
Toca o telefone: "Oi, você me ligou, eu estava dirigindo..." Vinte minutos de entrevista. Post pronto em seguida, nos 45 do segundo tempo. O reserva, já editado e bonitinho, cai pra gaveta. A próxima segunda será menos esquizofrênica. Mentalizo.

Emails chegam, emails partem.
Cancelo o compromisso de amanhã.
Uma porção de pendências se resolvem.
Anoitece, não chove.

O carro volta, dirigindo sozinho um motorista cansado.
Farmácia. Ligação chata. Dia chato. Novela chata.

Entro na internet. Facebook. Gmail. Email do trabalho.
Blog da Nath. Post legal da Nath.
Entro no blog. Escrevo no blog.
Enquanto isso, mensagens da namorada no celular. Respondo. Ela retruca.

"Te amo."
"Te amo."

Cantarolo, indo dormir, em homenagem ao dia que passou.
"A-pesar-de-vo-cê-amanhã-há-de-ser-ou-tro-dia..."