quinta-feira, maio 14, 2009

Havia uma moeda no meio do caminho

O passeio a São Paulo – eu morava no interior àquela época – sempre me causava frio na barriga. Mas aquele era especial: ia aumentar minha coleção de moedas antigas. Pouco me importava o que, de fato, trazia meus pais à capital. Só pensava na moeda indiana (aquela altura já alçada ao posto de relíquia) que iria buscar. Não passava de uma surpresa no kit infantil da Pizza Hut, mas para mim era uma relíquia, uma relíquia do Oriente.

Despachados os assuntos chatos dos adultos, fomos à loja de fast-food, pedi meu lanche (que nem me lembro ao certo o que era, talvez um pedaço de pizza de peperoni) e, então, pude me deparar com aquela preciosidade. Uma moeda em formato de losango, com cantos arredondados (uma cópia de moeda na bem da verdade, mas ainda era o tempo em que Papai Noel existia).

Aquilo era o máximo. Tratei de engolir logo o lanche, fomos para o carro e assim que entrei já me pus a brincar com a... moeda? Cadê a moeda? Onde está minha moeda?! Foi então que tive que lidar com a primeira sensação de perda da qual me recordo. Não tinha mais moeda. A moeda mais legal do mundo tinha se perdido no caminho. Assim, sem que ninguém tivesse notado, sem que desse um grito de socorro – um barulho qualquer que me fizesse perceber sua (desped)ida.

Pus-me a chorar. Foi desespero, confesso. Mas no estranho mundo dos adultos, eu era o estranho. Por que chorar pela moeda? Era só mais uma! Depois compramos outra. Frases como essas, ditas para me consolar, me martelaram por horas, dias, meses. E não é força de linguagem. Meses depois ainda cobrava – meio enfezado – a tal moeda dos meus pais. E eles, meio que sem jeito porque achavam que eu já teria esquecido isso há muito tempo, tratavam logo de mudar de assunto.

Guardadas devidas proporções, lidar com a perda da moeda me fez saber pisar melhor em ovos, sem quebrá-los, quando tive de lidar com a perda de outras coisas mais importantes. Da inocência, dos entes queridos, dos dias mais ensolarados. Hoje sei que não se tratava apenas de uma moeda.

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