segunda-feira, novembro 16, 2009

Vamos facilitar?

Faz mesmo um tempão que não passo por aqui. E escolhi bem o dia em que deixei meu óculos para trocar a lente. Ou seja, o grau aumentou e eu fiquei sem óculos. O que me permite dizer que escreverei essas "mal traçadas linhas". Ok, foi infame, mas eu já estava com saudades. E aposto que meus cinco ou seis leitores (numa visão mais otimista) também deram aquele riso contido, por dentro, num misto de vergonha alheia e regozijo despretensioso.

Mas vamos lá. O que me motiva a cometer este post (adoro também usar cometer quando quero dizer "escrever". É divertido, mesmo que soe pedante) é uma questão que há muito me acomete: os cabeleireiros. Vamos lá, a função é sempre a mesma: cortar, pintar, fazer luzes, repicar, meter química no couro cabeludo da mulherada sem deixar que arda. Então estamos diante de um acordo tácito entre mundo/sociedade e classe/cabeleireiros. Certo?

Errado. Porque aí os caras começam a dar uma embelezada também no nome da categoria. Em vez de cabeleireiro vem bizarrices como: hair stylist (este, o mais em voga), hair designer (já com aquela dose de pretensão) e o sensacional artistas do cabelo (sério, tem um desses no Itaim, aqui em SP). Já estava ridículo se parássemos por aí.

Mas eis que de repente - e não mais que de repente - (notem como hoje estou me valendo de todas as breguices textuais existentes), me deparo com a ma-ra-vi-lho-sa definiçào: "equipe especializada em você". Ah, meu povo. Ah, minha gente! Fala sééééério, gentileza! Forçaram a barra e não avisaram. Deram uma de Sarney na hora de nominar a própria profissão.

Notem ainda, como a foto permite ver, o nome completo do estabelecimento: "Cut & Color Club", assim mesmo, com "e" comercial. Já aí temos uma grande gama de significados. Os mais geeks logo associam a "cut and paste" (e não é deste que eu estou falando, hein!), os mais interioranos já pensam em "country club" e os oitentistas dos anos 2000 vão se lembrar do glorioso "Culture Club", aquela banda sensacional comandada pelo Boy George, um quase tarado que adora algemar garotos de programa para sodomizá-los.

Em suma, estamos diante da verdadeira marca; aquela que se estabelece pelo que é. Aos interessados, o "Cut & Color Club - equipe especializada em você" funciona na rua Mourato Coelho, um tanto antes (tipo 20m) da esquina com a rua Teodoro Sampaio. Fica em frente ao Pão de Açúcar. Eu continuarei a frequentar o meu sujo e esfumaçado "barbeiro", que me cobra R$ 15 por cada corte de cabelo. Leia mais aqui.

quarta-feira, setembro 02, 2009

A dúvida de Rabicho

Intróito intruso
Antes de mais nada acho que devo explicações aos poucos (porém qualificados) leitores d'O Mirim.

Faz mais de um mês que não escrevo nada por aqui. Mas a ideia é mesmo respeitar meu tempo. Tenho outras (muitas) atribuições que tomam grande parte do meu tempo e da minha cabeça. E sem cabeça, prefiro não escrever qualquer bobagem.

De qualquer maneira, prefiro ser otimista. Esse último mês foi muito bom, ouvi coisas muito relevantes, que acho que me ajudaram a amadurecer em alguns pontos. Dito isto, abaixo uma ficção-zinha para voltar suave e vagarosamente ao exercício das escrivinhações deste Mirim que tanto me dá prazer e orgulho. Vou contar a seguir a história do Rabicho.

***

Rabicho estava agitado. Corria feito doido, ora atrás do próprio rabo, ora buscando as correntes de vento que não podia enxergar. Como todo bom vira-lata, sempre encontrava tempo para caçar a refeição da hora e achar um rabo de saia. Ou como diziam os amigos, uma boa sarna para se coçar - com o perdão do trocadilho.

Mas aquele era um dia diferente. Nenhuma cadela sequer havia passado por perto. Rabicho, um sábio incompreendido, resolveu andar por outras bandas para ver se achava uma maneira ao menos razoável de ter do que se coçar.

Levantou-se rapidamente, correu a curta extensão da viela e deu numa grande e movimentada avenida. Uma moça de cabelos vermelhos e opiniões bastante ortodoxas chegou a se assustar com a chegada abrupta do cão. Ele fez que não percebera e desatou a descer a avenida, pela calçada, na contramão dos carros que insistiam em rivalizar o asfalto.

Passou por um ponto de ônibus, encarou as pessoas que esperavam transporte com certa brevidade e quando já se preparava para voltar a mirar o chão, deteve-se num garoto de uns 12 anos (13, talvez?) que devorava um lanche saboroso. Ameaçou chegar perto e lançar seu olhar faminto e sereno visando algumas migalhas, mas antes disso já levou uma olhada de canto e um resmungo mal educado que o fez lembrar do caminho que o aguardava. Nem barba tem, e já resmunga para mim, pensou.

De volta à rua, percebeu que se aproximava de uma ponte larga para os carros e pouco convidativa aos pedestres. Ainda assim, arriscou-se. Só não esperava aquele rechonchudo pedestre que vinha em sua direção, comendo um pacote de bolachas. Embananaram-se e acabaram se trombando, mas o gordinho deixou escapar um biscoito das mãos, abriu espaço para o bicho e todos se safaram. O pedestre livrou-se do infarto iminente. O cão, da desnutrição mortal.

A bolacha foi deglutida completamente no momento em que ele terminava de passar sobre a ponte. De volta a uma avenida larga, passou a sentir cheiro de seus pares. Como que por instinto, andou desembestado quase um quilômetro. Quando avistava cadelas simpáticas na quadra seguinte, olhou para o lado e viu o ambulante vendendo espetinhos de carne.

Mas a carne é fraca e ele estava de olho na quadra seguinte. Sem tirar o olho do ambulante, começou a atravessar a rua bem devagar, como se revisse sua decisão. Ouviu, então, a fatídica buzina. Vinha um caminhão, e com o pensamento entre a carne de gato e a das cadelas, não se decidiu para onde iria. Foi atropelado, morreu, virou estatística. Poderia ter virado sabão, é verdade. O Departamento de Zoonoses deflagrava ampla campanha de captura de cães vadios.

Rabicho virou carcaça, mas morreu feliz da vida. Pela comida que encontrara e pelas companhias que estava por encontrar. Virou poesia do cotidiano, alimentou o imaginário esfumaçado de quem procura lirismo na aridez da metrópole. E nos mostrou o mundo-cão como ele realmente é.

quinta-feira, julho 16, 2009

As duas meninas que (não) vimos

"Eu se chamo Bruna", disse uma das meninas.
"Amãda", disse a outra acompanhando a amiga, com voz de quem está gripada, querendo dizer que é Amanda.

Era perto das 2h de quarta para quinta-feira, fazia frio (algo como 14 ou 16 graus) e os carros passavam em intervalos cada vez mais longos. Meu carro havia quebrado e eu esperava o seguro vir resolver a pane elétrica.

Mas aquelas duas meninas sentadas logo na saída do drive thru do Mc Donald's, pedindo um trocado ou resto de lanche a quem passava, chamaram minha atenção antes mesmo de o carro quebrar.

Eu estava ali, no meio da rua, e elas lá, passando frio na calçada, esperando a boa vontade de um notívago qualquer. Fosse a garota levemente aérea que parou para se solidarizar com o carro quebrado, fossem os três babacas que estavam no carro atrás de mim, buzinando enquanto meu pedido não chegava - na saída, um deles passou vomitando pela janela enquanto o motorista, não menos bêbado, acelerava apressado. Bruna e Amanda ainda não notaram essa cena, preocupavam-se em se ver livres do frio, que insistia em incomodá-las. Nem os jovens viram as duas. Na verdade, ninguém viu as duas. Eu mesmo, só vi pela força das circunstâncias.

De qualquer maneira, aquelas crianças invisíveis estavam até tarde alí porque, segundo elas, tinham perdido o ônibus para casa, em Munhoz Jr., perto de Osasco. Como, isso?, pergunto. Vocês não vão dormir em casa? "Ah, a gente volta às 5h, quando tiver ônibus de novo", disse Bruna, com a naturalidade de quem já passara outras noites na rua, mesmo tendo menos de 10 anos.

Enquanto espero meu carro ficar pronto, levemente irritado, as duas meninas contentam-se pacientemente, passando frio, com o resto de lanche dos outros. Até que a manhã chegue e, se de fato elas tiverem uma casa, possam ir para Munhoz Jr. Senão, mais um dia nas ruas de São Paulo. Depois dessa, além de carro quebrado, coração partido. O mais difícil é me dar conta de que o carro é muito mais fácil de consertar.

Hoje, a despeito da madrugada desastrosa, foi um dia gratificante para mim.
Mas e Bruna e Amanda, privadas do dia a dia? Que foi feito delas?

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terça-feira, julho 07, 2009

O que aprendi com Gay Talese

A avalanche de informações às vezes nos obriga a parar. Nem que parar signifique viajar num final de semana e voltar renovado, mesmo que mais cansado que antes. Foi o que aconteceu comigo sábado, quando fui para a Flip assistir a palestra do Gay Talese, pai do new jornalism (mesmo que ele refute tal termo e, por conseguinte, o título também).

O que aprendi com ele? Bem, que de fato as boas histórias estão na rua. E, mais importante, que temos de pensar na internet como um aliado, e não como uma ferramenta que nos trancafie dentro da redação. Isso, vindo de alguém que não tem e-mail, celular ou que não usa a internet pode soar estranho, mas estranhamente faz sentido.

O que ficou mais patente é que boas histórias serão sempre boas histórias. E que alguém tem que contá-las, porque há quem espere por elas. Para tornar isso algo mais real, acredito que devemos apenas saber adaptar boas histórias às mídias certas. Que vida vale um post, que acontecimento vale uma página, que notícia vale 140 caracteres no Twitter?

Essa pergunta fica no ar, o que é ótimo. Regras ainda não formadas permitem o risco. Arriscar é bom - e parece que essa alternativa vai perdendo força conforme vamos ganhando experiência. Quase uma praga.

E, por fim, encerro com o que o escritor disse, ainda há pouco: "Acredito que um dia haverá dinheiro para sustentar qualidade [editorial]". Há conversas, palestras, entrevistas que mais confundem do que explicam. É que uma nova opinião, um novo pensamento está por se formar. E assim vamos vivendo. Nesse sentido, tudo é burilamento.




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quinta-feira, julho 02, 2009

E o homem sucumbe à informação

Tem ideias que me atormentam. Tanto que tenho uma listinha de assuntos organizados em rascunhos na administração do blog. Ou porque deu preguiça de escrever, ou porque faltou tempo, ou só porque não é a hora.

Mas tem uma coisa que me incomoda um tanto. Desde que comecei a trabalhar e tive que estudar ao mesmo tempo, comecei a ficar atormentado com o fluxo de informações. Eu não entendia (e não conseguia processar) que além de ler um texto de 40 páginas sobre a Escola de Frankfurt, ainda teria que fazer umas 30 ligações e mandar um sem-número de emails depois da aula. Mas como? Sempre lembrava - e ainda lembro - da minha professora de artes da primeira série dizendo: faz o mais difícil antes e depois mata os mais fáceis depois, rapidinho. Pena que a vida não é um exercício de recortar e colar.

O tempo foi passando e eu fui me acostumando. O que quer dizer que eu passei a trabalhar mais em detrimento da faculdade. Tudo muito bem, tudo muito bom, a vida correndo em paralelo às mil atividades. Outros acontecimentos sem qualquer relação com o trabalho alterando o dia a dia de um jovem estudante.

Até que eu descobri o Google Reader, serviço de RSS. Faz o quê, uns dois anos? Acho que por aí. Passou um tempo, deixei de lado, e agora na Galileu passei a retomar o serviço. E a ideia de ter umas 200 novas notícias por hora é desesperador. Porque enquanto eu estou, sei lá, entrevistando alguém ou reclamando do meu computador para o Help Desk, a Folha Online, o G1 e os 20 blogs que eu sigo estão me mandando informações.

E enquanto eu estou escrevendo aqui, outras 2 mil noticias me esperam, nervosas para serem lidas naquela interface padronizada do Google. A informação é muita, e nossa função é hierarquizar, traduzir e dizer porque aquilo é importante para o nosso leitor. Ok, já entendi a parte técnica da coisa.

Mas e eu, como fico? A vontade é ficar testando os limites físicos e ficar a maior parte do tempo vendo as notícias do Google Reader chegando. Mas me pergunto: até que ponto não ganho muito mais passando um final de semana na praia ou uma tarde toda entrevistando um personagem bacana? Quando tenho que parar de acumular repertório e começar a confrontá-lo com os demais?

São inquietações que provavelmente não existiam no mundo cartesiano de décadas atrás. As décadas pré internet.

Afinal de contas, isso me faz pensar se não deveria priorizar mais as vivências (de qualquer tipo) do que as informações e, desse modo, ser alguém mais completo para a vida. E para o trabalho. E para todo o resto.

E aí caio em outro ponto. Se me esforçar ao máximo, sempre reavivar os contatos com pessoas queridas, estar sempre muito bem informado, arrumando tudo da casa, organizando o caos do cotidiano; isso tudo não vai me exigir mais? Mais tempo para os amigos e para os papos de mesa de bar, para os compromissos do trabalho, para as coisas da casa... E isso vai aumentando, aumentando, aumentando, aumentando até que sucumbimos.

A questão é: o homem está usando sua capacidade máxima de absorção e intelecção de ideias? Isso faz bem? Quais as consequências disso? Onde vamos (ou não) parar?

Não sei. Espero que o final de semana na Flip, em Parati, me afaste dessa rotina frenética e me ajude a por a cabeça no lugar. Da próxima vez, espero um post menos atormentado e mais poético, influenciado pela convivência na charmosa cidade fluminense. E só para recordar e reforçar, meu primeiro conto de ficção publicado sai na CRESCER de julho. É sobre a amizade de olhos livres. Espero que quem ler, goste. A ideia é essa.

até logo. da próxima vez, com menos complexidades e mais poesia.



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terça-feira, junho 23, 2009

Aliás e a propósito...

A sensação das férias que se aproximam é ótima.
Que venham logo, para eu retomar meus escritos por aqui e O Mirim ter um tanto mais de dignidade!

hasta luego, compañeros!

quarta-feira, junho 17, 2009

Diplomas e chacoalhões

Quatro anos de faculdade, três deles no circuito Cotia - Paulista, em grande parte de ônibus. Das 36 disciplinas + TCC, conto nos dedos da mão as que valeram a pena. E agora, prestes a começar a roteirizar o TCC, os ministros do STF suspendem a obrigatoriedade do diploma.

E quer saber, eles estão certos. Logo que li que tinha caído a obrigatoriedade, bateu aquele pensamento: "Putz, bem agora, quando a luz está aparecendo no fim do túnel?!". Mas depois, pensando melhor, realmente, não tem que ser obrigatório coisa nenhuma.

É claro que a maior parte dos jornalistas é, sim, jornalista por formação. E o que lhes facilitou a entrada no mercado foi, sim, a faculdade de jornalismo. Mas por que restringir isso só aos jornalistas "por formação"? Se o cara é bom, gosta disso, está disposto a passar pelas desventuras da profissão e tem objetivos concretos, por que não contratá-lo? Que culpa ele tem de ter escolhido, sei lá, estudar engenharia?

Melhor que nós. Pelo menos vai conseguir fazer regra de três sem calculadora na correria do fechamento, enquanto o resto da patuleia se limita a dizer "que não nasceu para fazer conta".

E quem sabe agora as faculdades não melhoram o nível, né? Não, sério, por que se continuar desse jeito, o jornalismo brasileiro já era (se é que ainda é). Estudo numa das faculdades "mais conceituadas", daquelas que impressionam os pais dos amigos e os parentes distantes quando conto o que faço da vida. Mas o que me impressiona de verdade é o conjunto de bizarrices que meu cérebro pode amealhar nos últimos anos. De teorias conspiratórias a dados inúteis a respeito de toda e qualquer coisa, ouvi de tudo.

Porque convenhamos, mais competitivo do que está, não fica. Como eu disse agora há pouco, quem sabe com isso não chega gente mais bem preparada e disposta nas redações. Assim, produziremos coisas melhores - e, mais importante, talvez nos livremos de algumas manias estúpidas que só saem aos chacoalhões.

sexta-feira, junho 12, 2009

Sobre hoje

Dia de resoluções práticas,
noite de (não) lembranças melancólicas
Um filme divertido, ao acaso

Quando ser feliz
é só estar ao lado de quem se quer
Sob um edredom que esquente.

Tão fácil,
mas tão longe
nessa noite fria.

domingo, junho 07, 2009

A ética da lágrima

Um dia (outro dia, na verdade, bem quando retomei O Mirim), falei daqueles assuntos que caem no nosso colo, sem que a gente queira ou espere que eles caiam. Pois essa semana aconteceu de novo. E tudo no mesmo dia. (Ante)ontem, sexta-feira.

Logo pela manhã, rolou minha primeira entrevista (a segunda desse tipo) com uma vítima de pedofilia. A entrevista fará parte do meu TCC, que entrego no meio do semestre que vem. A diferença entre a de sexta-feira e a outra, feita pela Carol e pela Bia, é que, da primeira vez, se tratava de uma criança violentada há pouco tempo. E por isso a mãe e o avô foram os entrevistados. Mas na sexta o personagem era uma mulher de 45 anos. Crescida e, portanto, apta e disposta a falar sobre o trauma que sofreu na infância.

Tudo transcorreu relativamente bem, dentro das possibilidades. A entrevista rolando, um bom câmera filmando, luz ok, entrevistada com boa oratória. Mais para o final, com mais de 40 minutos de entrevista, lanço uma pergunta delicada - as mais difíceis de se fazer sempre ficam para o fim, por uma questão prática (se o entrevistado quiser parar o papo ali, ao menos já se tem grande parte do conteúdo).

Pedi que ela contasse como tinha ficado a relação dela com o pai, o abusador, depois da fase adulta.

A história é comovente. Já velho, o pai, antes envolvido com drogas e álcool, se refugiara em outro estado. Não mantinham contato, vítima e abusador, por questões óbvias. Eis que uma doença o acomete, e somente em SP ele teria tratamento adequado. Só a casa da filha, vítima sua com 11 anos, poderia acolher o doente.

Num ato de coragem e altruísmo, ela aceitou o pai em casa. Não se viam. Ela passou meses saindo do quarto apenas para pegar comida, amedrontada pelas lembranças da infância interrompida. A medicação do pai ficava a cargo de seus (muitos) filhos. Até o dia em que ele pediu um abraço. Para a neta de cinco anos. Cinco. Ela fora abusada aos onze.

O que fazer? Era um pedido sincero de abraço? Valeria arriscar a integridade da própria filha para não ter que lidar com o trauma?

Ela, então, saiu do casulo. A curta distância entre seu quarto e o do pai levou longos 40 minutos para ser percorrida. Muita coisa veio à tona. O medo, a raiva, tudo. Ela enfrentou tudo.

Nas palavras dela, ao menos pelo que registraram meus ouvidos: "Quando olhei para ele, naquela cadeira de rodas, ele já não era aquele homem forte de antes, já não trazia as feições antigas, seu rosto estava magro. Ele era mais frágil do que eu pensava. Era um homem doente". Pediu um abraço, pediu perdão por tudo. Ela o abraçou - e o perdoou.

Ouvi a tudo isso a um metro de distância, ao som de um choro fundo e forte, de quem resgata algo lá de longe e de dentro. E eu impassível, aparentemente insensível, vi a fatídica lágrima cair até a maçã do rosto, realçada pelo contra-luz armado para a filmagem. Quis chorar. Me contive para não perder o controle da entrevista.

Mas me pus em xeque. Eu tinha o direito de remexer no passado de uma desconhecida, mesmo que ela aceitasse? E por que me segurei? Será que meu choro, uma lágrima que fosse, não era a forma mais sincera de dizer que eu me solidarizava a ela, que compartilhava daquela dor? Mesmo sem ter ideia do tamanho daquilo, eu não DEVERIA ter demonstrado algo?

Essa pergunta foi embora, até que me pus sozinho, a caminho do trabalho. Não passamos incólumes às situações do dia-a-dia. Nós somos transformados, para o bem e para o mal, pelos fatos do cotidiano. E então esse questionamento ficava indo e voltando, o tempo todo.

Paralelamente, à tarde, estava curioso para pegar a Época dessa semana, que saiu mais cedo em virtude do acidente do Air France 447. Só consegui meu exemplar ao final do dia. De volta para casa, dei uma folheada na revista e parei na coluna da Ruth de Aquino, que sempre fecha a edição. Tenho uma simpatia especial pela coluna, que sempre trata de maneira delicada ou indignada (sempre bem opinativa) sobre o acontecimento mais relevante da semana.

E o tema que fechava a coluna dessa semana era justamente sobre esse sentimento que bateu à minha porta naquele dia. A ética do choro. Encerro o post de hoje com a reprodução do trecho final da coluna, que traduziu (e me fez concluir) o sentimento gerado por situações como essa:

"Se um psicanalista, por profissão, precisa racionalizar a dor alheia para confortar, um jornalista precisa agir como, para contar a dor de seus entrevistados? Abstrair-se completamente? Ficar frio? A repórter Martha Mendonça, que ajudou a resgatar histórias das vítimas [do voo 447 para Época], escreveu no blog Mulher 7x7, de Época: "A pior parte de ser jornalista é falar com familiares de alguém que acaba de morrer em situação trágica. Já entrevistei mães faveladas com filhos embaixo dos escombros depois da chuva. Os pais de uma menina que morreu de bala perdida. Mães de crianças desaparecidas e pais de meninos assassinados. Não foram poucas as vezes em que chorei. Sem perder o controle. Não é ético o jornalista que mostra que se importa?""

Eu chorei, atrasado, na sexta à noite, sentado no sofá de casa, quando li a última frase do trecho acima. E agora, de novo, relendo e revisando o post.

terça-feira, maio 26, 2009

Barbeiro ou cabelereiro?

Desde que mudei para a casa nova (5/abr, quase dois meses, portanto), me enchi de coisas para resolver. Mandar ligar o gás, trocar o box (nojento) do banheiro, resolver o lance da fiação antiga, bla, bla, bla. Eis que um mês depois, mais ou menos, percebi que o cabelo estava comprido. E como não é muito prático voltar para Cotia para cortar o cabelo, saí em busca de um lugar novo para aparar as arestas capilares.

Vale, aqui, um adendo. Minha mãe, quando eu era pequeno e morava em São Roque, continuava indo para Cotia (quase semanalmente) para fazer as unhas. O aparte é só para quem lê (e não conhece bem) entender a hereditariedade das coisas, porque minha irmã continua voltando para lá para fazer as unhas. Ah, e minhas tias vão para Santos (oi?!) para cortar o cabelo. Ou seja, nasci predestinado a fazer grandes jornadas em benefício dos remendos estéticos.

Mas não. Resolvi quebrar o paradigma. E saí em busca, pelo bairro, de algum lugar para cortar o pello. Sei lá, Vila Madalena, além de bar, deveria (ao menos a meu ver) ter vários lugares. E tinha, só que todos muito caros. Se na Granja eu gastava R$25 e já achava um absurdo, quase denunciei alguns estabelecimentos vizinhos.

Mas tudo bem, estava no velho dilema "eu curto cabelo comprido, mas dá trabalho e não favorece (um monte de coisas)", e fui deixando o tempo passar. Até que... até que chegou a semana anterior ao seminario da Crescer, e queria ficar todo bonitão. Ou o mais próximo disso, claro. Mandei ajustar a camisa nova, piriri, pororó, e eis que não cortei no final de semana. Ontem, segunda-feira, um dia antes, e eu lá com o cabelo desgrenhado (mesmo quando eu penteava).

Aí nessas horas a gente acha que a vida é filme, que estamos em NY e que resolveremos tudo com uma ligação. Porque tudo fica aberto até meia-noite, e SP é a melhor cidade do mundo. Aham, ok. Pego o falatório digital e disco. Jacques Janine, Shop Vila Lobos. "Oi, tudo bem? Quanto é o corte masculino?". "Oitenta e cinco reais". "Ok, obrigado". Vamos lá: tem ouro na porra do shampu? A Gisele Bundchen vai cortar meu cabelo? Vai levar tipo 4h e meia e ainda rola uma massagem na faixa? Não, né? Falou então. Não gasto 85 pratas/mês nem com meu cerébro, que dirá com a parte que o recobre, né?

Beleza. Soho Vila Madalena. 38 reais, o cara com menos tempo de casa. Fechado! Metade do preço para servir de laboratório de gente despreparada. U-huu. Próximo. Salão da esquina de casa: 25 reais, só que só no dia seguinte, as 10h. Exatamente 1h30 depois do horário que eu teria que chegar no lance da Crescer.

Joguei a toalha e decidi esperar. Sempre passava por um barbeiro furreca no caminho do metrô. Daquele que olha e sabe que vai pagar R$ 15 para cortar e vai levar de brinde, na sorte, umas boas histórias do tiozinho que cortar seu cabelo. No azar, sai com menos cabelo e com hepatite, mas sussa! Dito e feito. Cheguei em casa mais cedo hoje, mas agoniado (tenho certeza que teria aproveitado melhor o seminario se tivesse cortado antes, sério). Passando na frente, deu para perguntar para um senhor (com barba por fazer e um cabelo toscamente mal aparado) quanto perdia para perder tanto cabelo. Quinze reais.

"Volto daqui a pouco, amigo!". Meia hora depois, estou eu lá. O lugar era sujo. Sujo mesmo, não era impressão. Cheiro de cigarro e de estabelecimento que não vê uma faxineira há um bom tempo. Mas cortou em 20 minutos, sem afetação. Nada de lavar: viva o bom e velho borrifador d'água. O papo, animador. O João (que cortou meu cabelo) está ali há um ano, quando faliu o outro salão onde ele cortava com o Benito, o dono da espelunca (de primeira, diga-se de passagem), barbeiro há 54 anos. Rá!

E o melhor, não é nenhum afetado que vem com aqueles papos "Conhece essa pomada? É óóótima menino, nem deixa aquele aspecto oleoso no cabelo!" (na boa, quem fala aspecto?!). Ou então: "Vamos lavar? Deixa eu temperar a água. Tá quente? Upa! Melhorou?" - tudo isso naquela posição ingrata, em que qualquer movimento errado te deixa sem a percepção do pescoço pra baixo o resto da vida...)

Preciso responder a pergunta do título?

--

P.S.: Estou usando muitos parêntesis, não? Fiquei impressionado. É a Crescer que faz isso comigo. Mas eu acho bom, só preciso dosar melhor nessas situações.

P.S.2: Achei muito "pessoal demais" esse post. Não quero que se repita, mas é que a história é boa. E como aqui quem edita é estagiário ainda, passa muita coisa que não passaria. É o que eu digo: os outros passarão, eu passarinho. Mentira, nem digo isso, nem fui eu que inventei.

segunda-feira, maio 25, 2009

TV emburrece sim

Passagem rápida, quase um twitt.

TV emburrece. Estou sentado assistindo CQC desde as 22h, sendo que tenho um trabalho a fazer. Detalhe: tem um texto inteiro para ler. 11 páginas. Só para ver o vizinho em Cannes. Fala sério.

Fica a dica: desligue a TV e vá ler um livro. Ou qualquer outra coisa.

Fui.

sábado, maio 23, 2009

Como tá tu, tatu? Tátu(do) bem. Tatu!

Tem dias que ouço, repetidamente, frases muito boas. E tem semanas em que ouço muitas frases boas. Muitas mesmo. Tanto que, um dia, comecei a postar tudo no Vou de Táxi. Mas aí não tinha fôlego para tanto e parei. Quem sabe um dia eu retome.

Essa semana foi de muitas frases boas, em lugares bem diferentes. Mas umas duas semanas atrás saquei o sentido de uma frase muito boa, que sempre ouvi e, a meu ver, foi o que deu a largada para essa semana de bons ditos - populares ou não. "Great minds thinks alike". Genial! A desculpa perfeita para todo e qualquer tipo de plágio. Ela me perseguia desde o final do ano passado, na aula de inglês, capítulo 5b, "What's your motto?". Pronto, ganhou contexto.

Mas voltando, o início da sequência matadora de boas frases começou na segunda, com uma palestra do Jair Ribeiro, dono da Casa do Saber e empreendedor (p.s.: é legal ser caracterizado como "empreendedor", né? Imagina a conversa: Que você faz? Sou jornalista, e você? Ah, sou empreendedor. E na boa, do jeito que as coisas são e estão, a próxima geração vai dizer - e ouvir - isso com naturalidade). A dele foi: "Essa é a realidade do século XXI a quinze minutos daqui", sobre a situação periclitante da educação nas escolas públicas da periferia de SP. Tiveram outras, melhores ou piores, mas essa é que eu destaco por aqui.

Depois ouvi umas duas ou três bem boas, mas como sempre minha memória brinca de escondê-las de mim. Não lembro, e detesto isso. Aí ontem, fim do dia, eu querendo ir embora, a Bia, que trabalha comigo, me mostrou uma música, linda por sinal, do John Lennon. Era "Beautiful boy", feita quando seu filho Sean nasceu. E entre os muitos conselhos do tipo "viva a vida sem medo" (mas que não soam caretas), ele lança: "Life is just what happens to you,
While you're busy making other plans" (ou, A vida é o que acontece com você enquanto você está ocupado fazendo outros planos). Claro! Como não tinha pensado ou ouvido isso antes? Entrou na categoria "transformou minha vida".

Já estava tudo certo, tudo muito bem, boas frases ouvidas até que... Até que hoje eu fui no musical Pra Nhá Terra, do Grupo Ponto de Partida + Os Meninos de Araçuaí. Um espetáculo fantástico, dentro do Auditório Ibirapuera, com umas (chute) 20 crianças (os meninos, que também são meninas, de Araçuaí, MG). O tema é a preservação ambiental. E o resto é o talento deles. Entre as muitas frases excelentes, cito aqui: "Certa vez o girassol se apropriou de Deus. Foi em Van Gogh". Coisas como essa me fazem confirmar a ideia de que é muito bom quando nossa língua consegue se apropriar do repertório de quem diz isso. É uma catarse para quem escuta, sem exagero. E pra quem diz também, convenhamos.

Fica a dica, alias. Meninos de Araçuaí no Auditorio Ibirapuera. Tem só até amanhã, a preços módicos e garantias sinceras de recompensa emocional.

E quanto às frases, vou deixando elas entrarem. É só se deixar de ouvidos livres. E olhos também: assim se vacina a alma.

sexta-feira, maio 22, 2009

Estamos fadados ao amor

Tenho falado muito sobre o amor. Falado, lido, entrevistado. Experimentado menos do que gostaria, mas beleza. E a conclusão a que chego é essa: estamos fadados ao amor. Em maior ou menor grau, de maneiras diretas ou indiretas, é para ele que caminhamos.

Não é uma coisa instintiva. Mas ao mesmo tempo é algo tão imenso, que suplanta as palavras. Por isso e por outros tantos motivos não damos conta desse amor todo. Por vezes usamos mal. Por outras, não demonstramos da melhor maneira. Mas estamos sempre amando. A nós mesmos, aos entes queridos, as plantas, a comida, a casa, sei lá, tudo.

E não é algo tão visível aos olhos. É de se sentir.
Também não é de fugir. Andamos, mesmo que contra a corrente, para ele. Ele está no final das correntes e das contra-correntes. Ele as inicia e as encerra. E nós nos encerramos nele.

Amando outra pessoa. Amando o regozijo causado por alguém. Amando o amar. Amando o amor. Amando, sobretudo, a aprender a amar.

E nem chegamos a junho: maio vem trazendo o frio, a vida vem trazendo o amor.

terça-feira, maio 19, 2009

Porque tem dia que é dia de escrever

Hoje vou escrever mais. Mais porque passei o dia todo escrevendo. E tem dia que é assim, uma reta ascendente. Começa com uma caneta e um caderno, na faculdade, às 8h, 10h da manhã e vai manhã, tarde adentro e começo de noite também.

Hoje foi tipo isso. E esse post é, sim, meio "Querido Diário...". É a vida. Nem só de ficção se vive a vida, oras.

Além de ter ficado (por que quis) até quase 1h ontem na "firrrrrrma", cheguei hoje e trabalhei que nem um débil mental. Achando que ia ser pé nas costas. Mas aí foi. Emendava um email naquela nota atrasada, atendia dois ou três telefonemas (ora a TVA marcando instalação dos pontos pra sexta, ora a advogada da dona do ape), voltava para a nota, mas esquecia do email. Aí decidia ligar, ligava, voltava para a nota (a nota, a nota). Fecha isso na página. Corta mais.

E as outras notas? Mais notas! Notas! Mas e as fotos?! Sim... Oi, quero fotos, me manda? Valeu, beijos. E aí já era 16h. E minha teoria de que, na verdade, o ínterim entre 16h e 19h não tem três horas, mas 30 minutos, se comprovou. Pronto. Sete da noite, e faltava escrever as notas. Sete e quinze, tudo escrito, entregue, chefe feliz... Mais uns cinco emails. Passando uma entrevista para outro fazer, agradecendo a agilidade de um assessor de imprensa (e é sempre bom reforçar e parabenizá-los por isso, porque eles sempre tendem a ser lentos. Tipo 'oficializa isso pra mim por email, por gentileza?'. Uhhhhh...), deletando aqueles inúteis. Aí aproveito para deletar ítens inúteis de cima da mesa, depois organizo o que sobrou e... rua. Hoje saí cedo, 19h35.

Mas teve mais. Em casa às 21h, após, digamos assim, cumprir compromisso com a divindade, respondi mais uns quatro emails pessoais/TCC/faculdade. E vim escrever por aqui.

Tudo para concluir que tem dia, que nem hoje, que é dia de escrever. Praticamente como o pasteleiro, um pastel atrás do outro. Mas tudo bem, me sinto bem por isso. E ter consciência feliz e tranquila no final do dia é sinal de que estamos sempre no caminho certo.

Mas por hoje é só, que agora preciso desligar a TV (Casseta e Planeta cheira a naftalina) e ler Hamlet, que parece mais contemporâneo que a turma do Bussunda.

Hasta.

quinta-feira, maio 14, 2009

Havia uma moeda no meio do caminho

O passeio a São Paulo – eu morava no interior àquela época – sempre me causava frio na barriga. Mas aquele era especial: ia aumentar minha coleção de moedas antigas. Pouco me importava o que, de fato, trazia meus pais à capital. Só pensava na moeda indiana (aquela altura já alçada ao posto de relíquia) que iria buscar. Não passava de uma surpresa no kit infantil da Pizza Hut, mas para mim era uma relíquia, uma relíquia do Oriente.

Despachados os assuntos chatos dos adultos, fomos à loja de fast-food, pedi meu lanche (que nem me lembro ao certo o que era, talvez um pedaço de pizza de peperoni) e, então, pude me deparar com aquela preciosidade. Uma moeda em formato de losango, com cantos arredondados (uma cópia de moeda na bem da verdade, mas ainda era o tempo em que Papai Noel existia).

Aquilo era o máximo. Tratei de engolir logo o lanche, fomos para o carro e assim que entrei já me pus a brincar com a... moeda? Cadê a moeda? Onde está minha moeda?! Foi então que tive que lidar com a primeira sensação de perda da qual me recordo. Não tinha mais moeda. A moeda mais legal do mundo tinha se perdido no caminho. Assim, sem que ninguém tivesse notado, sem que desse um grito de socorro – um barulho qualquer que me fizesse perceber sua (desped)ida.

Pus-me a chorar. Foi desespero, confesso. Mas no estranho mundo dos adultos, eu era o estranho. Por que chorar pela moeda? Era só mais uma! Depois compramos outra. Frases como essas, ditas para me consolar, me martelaram por horas, dias, meses. E não é força de linguagem. Meses depois ainda cobrava – meio enfezado – a tal moeda dos meus pais. E eles, meio que sem jeito porque achavam que eu já teria esquecido isso há muito tempo, tratavam logo de mudar de assunto.

Guardadas devidas proporções, lidar com a perda da moeda me fez saber pisar melhor em ovos, sem quebrá-los, quando tive de lidar com a perda de outras coisas mais importantes. Da inocência, dos entes queridos, dos dias mais ensolarados. Hoje sei que não se tratava apenas de uma moeda.

segunda-feira, maio 11, 2009

Pelo amor, a magia do circo

Faz uma semana (talvez uma semana e um dia) que não escrevo. Acontece assim, tenho muita vontade de escrever numa semana, noutra fico sem ideias. Mas no fim, no cômputo geral, dá tudo certo.

Hoje, confesso, é dia sem ideias. Mas dando uma olhada no site do M&M, fiquei sabendo do comercial abaixo - e, confesso, tenho um fraco por comerciais que fazem arrancar lágrima. Não me orgulho disso, mas pelo menos esse é de uma campanha sem fins lucrativos.

É lindo. Mistura da magia do circo, com a espontaneidade que ela gera. Acho que é uma boa para encerrar o dia. Depois de dentista, mil coisas da casa feitas, trabalho e papo com os três irmãos ao final do dia, é bom cair de volta em mim mesmo pela emoção. Não deixa de ser pelo amor, também. E tudo na vida, me convenço cada dia mais com os anti-exemplos do dia-a-dia, é melhor que chegue pelo amor, que pela dor. Pode parecer meio maniqueísta, mas os acontecimentos mais fundamentais da nossa vida se dão assim. Pelo amor ou pela dor. Eu fico com a primeira opção.

Fiquem com "Magia", da agência peruana Circus.

quarta-feira, abril 29, 2009

A força do personagem

Ontem assisti à uma palestra esclarecedora. Uma das melhores que já vi; certamente a mais instrutiva de que tenho notícia. Era com a Eliane Brum, repórter da Época. Basicamente, foram duas horas e meia de conversa sobre como mostrar grandes personagens sem resvalar no clichê. E não me refiro a celebridades, artistas ou qualquer ser que esteja presente nas páginas de revistas de fofoca. São os ilustres desconhecidos do cotidiano, tão bem registrados por ela.

Mas o que mais me chamou atenção é que a capacidade de encontrar boas histórias está intimamente ligada à disponibilidade de quem as conta. Ou seja, o repórter (ou quem mais queira contar uma história, num sentido mais amplo) precisa estar disposto a entrar em contato com o outro.

E estar em contato com o outro é se colocar em contato consigo mesmo. Como disse Eliane, poeticamente, "temos que estar abertos ao espanto". Temos que confrontar nossas fissuras; é um constante se colocar em xeque. É quase uma terapia. E aí é possível entender o que ela dissera um pouco antes: "Só quem é frágil e finito pode contar histórias". Faz sentido.

Ficou claro, também, que boas histórias acabam sendo contadas por pessoas boas, no sentido mais amplo da palavra. Não me refiro só a competência, nem só técnica. São importantes, mas muito fáceis de se adquirir se a compararmos aos sentimentos que algumas pessoas mostram, mesmo sem se deixar ver.

Pessoas que não precisam de credenciais para entrar na casa dos mais simples cidadãos e ouvir suas histórias. Pessoas que dizem mais pelo que são do que mostram ser. Pessoas que conseguem enxergar além. Por fim, uma alegoria ótima para se começar a quarta-feira, citada por Eliane: "O cotidiano é uma catarata que nos cega dia a dia".

Fica, além de um bom dia, o desejo sincero de não querer se cegar pela catarata do dia a dia. E, cada vez mais, conseguir contar boas histórias, grandes histórias, de pessoas que nos parecem pequenas, miúdas, mas que acabam se tornando grandes lições de vida. Sem cair no clichê, nem soar piegas.

sábado, abril 25, 2009

Farol de Santa Marta, SC, Dez/2007


Tirei essa foto numa viagem de Ano Novo ao Farol de Santa Marta, em Santa Catarina. Essa era a vista que eu tinha da entrada da pousada. onde eu estava hospedado. Fiz a foto num final de tarde, é claro, e alguns minutos o sol se escondeu atrás dessas nuvens e deixou um céu vermelho, lindo.

E aí aquela cena que a gente acha que só vai ver num fim de tarde no Posto 9 de Ipanema, repetiu-se no fim do dia catarinense. Todos aplaudiram o astro que se ia (mas que voltaria forte, muito forte, nos dias seguintes). Não me lembro se eu aplaudi, porque a máquina que eu carregava era pesada e desajeitada.

Era uma Minolta da década de 60 (toda vez que qualifico coisas por décadas as quais elas pertencem ou a que remetem, lembro da minha irmã mais velha dizendo que eu sou uma pessoa de décadas. Tipo que diz que essa cadeira é muito anos 80 ou que Novos Baianos - escrevo ao som de Swing de campo grande e Acabou chorare - é muito anos 70) , que foi do meu tio Fernando, que morreu na década de 90 (só estou reforçando o lance das décadas...). Meu pai me deu há uns dois anos e eu tento usá-la sempre que dá.

Toda essa enrolação pra dizer que, na verdade, todo mundo diz que foto de pôr do sol é clichê e que aplaudí-lo é coisa de hippie chato. Então, talvez até concorde, dependendo do contexto.

Mas se levarmos em conta que clichê é um esvaziamento de sentido pela repetição do uso, e que ao tirar essa foto a enchi de histórias e significações (em grande parte contadas aí acima), cai por terra que esse por do sol é mais um por do sol.

É o meu por do sol!

E quem não sabe reconhecer quão legal é parar por um por do sol desses não merece meu crédito. Por isso compartilho aqui sem achar que minha foto é mais uma foto, ou que é um retrato cafona.

sexta-feira, abril 24, 2009

E o homem sucumbe à informação

Tem ideias que me atormentam. Tanto que tenho uma listinha de assuntos organizados em rascunhos na administração do blog. Ou porque deu preguiça de escrever, ou porque faltou tempo, ou só porque não é a hora.

Mas tem uma coisa que me incomoda um tanto. Desde que comecei a trabalhar e tive que estudar ao mesmo tempo, comecei a ficar atormentado com o fluxo de informações. Eu não entendia (e não conseguia processar) que além de ler um texto de 40 páginas sobre a Escola de Frankfurt, ainda teria que fazer umas 30 ligações e mandar um sem-número de emails depois da aula. Mas como? Sempre lembrava - e ainda lembro - da minha professora de artes da primeira série dizendo: faz o mais difícil antes e depois mata os mais fáceis depois, rapidinho. Pena que a vida não é um exercício de recortar e colar.

O tempo foi passando e eu fui me acostumando. O que quer dizer que eu passei a trabalhar mais em detrimento da faculdade. Tudo muito bem, tudo muito bom, a vida correndo em paralelo às mil atividades. Outros acontecimentos sem qualquer relação com o trabalho alterando o dia a dia de um jovem estudante.

Até que eu descobri o Google Reader, serviço de RSS. Faz o quê, uns dois anos? Acho que por aí. Passou um tempo, deixei de lado, e agora na Galileu passei a retomar o serviço. E a ideia de ter umas 200 novas notícias por hora é desesperador. Porque enquanto eu estou, sei lá, entrevistando alguém ou reclamando do meu computador para o Help Desk, a Folha Online, o G1 e os 20 blogs que eu sigo estão me mandando informações.

E enquanto eu estou escrevendo aqui, outras 2 mil noticias me esperam, nervosas para serem lidas naquela interface padronizada do Google. A informação é muita, e nossa função é hierarquizar, traduzir e dizer porque aquilo é importante para o nosso leitor. Ok, já entendi a parte técnica da coisa.

Mas e eu, como fico? A vontade é ficar testando os limites físicos e ficar a maior parte do tempo vendo as notícias do Google Reader chegando. Mas me pergunto: até que ponto não ganho muito mais passando um final de semana na praia ou uma tarde toda entrevistando um personagem bacana? Quando tenho que parar de acumular repertório e começar a confrontá-lo com os demais?

São inquietações que provavelmente não existiam no mundo cartesiano de décadas atrás. As décadas pré internet.

Afinal de contas, isso me faz pensar se não deveria priorizar mais as vivências (de qualquer tipo) do que as informações e, desse modo, ser alguém mais completo para a vida. E para o trabalho. E para todo o resto.

E aí caio em outro ponto. Se me esforçar ao máximo, sempre reavivar os contatos com pessoas queridas, estar sempre muito bem informado, arrumando tudo da casa, organizando o caos do cotidiano; isso tudo não vai me exigir mais? Mais tempo para os amigos e para os papos de mesa de bar, para os compromissos do trabalho, para as coisas da casa... E isso vai aumentando, aumentando, aumentando, aumentando até que sucumbimos.

A questão é: o homem está usando sua capacidade máxima de absorção e intelecção de ideias? Isso faz bem? Quais as consequências disso? Onde vamos (ou não) parar?

Não sei. Espero que o final de semana na Flip, em Parati, me afaste dessa rotina frenética e me ajude a por a cabeça no lugar. Da próxima vez, espero um post menos atormentado e mais poético, influenciado pela convivência na charmosa cidade fluminense. E só para recordar e reforçar, meu primeiro conto de ficção publicado sai na CRESCER de julho. É sobre a amizade de olhos livres. Espero que quem ler, goste. A ideia é essa.

até logo. da próxima vez, com menos complexidades e mais poesia.

quinta-feira, abril 23, 2009

A hora e a vez de Susan Boyle

Semana passada, como grande parte do mundo, eu conheci Susan Boyle. Uma inglesa de quase 50, que nunca foi beijada ou tocada. Virgem. Feia. E que se submeteu a um julgamento cruel do júri de uma espécie de American Idol local. E das mais de mil (acho que até bem mais que isso) pessoas que estavam na platéia.

Ela foi ridicularizada. Riram dela. Gargalharam. Até ela abrir a boca e cantar. Então todos se calaram, e aplaudiram. Muitos, como eu, choraram. Em maior ou menor grau, quem assistiu aquilo se emocionou. E então ela foi aprovada, passou para a próxima fase.

Aí me bateu uma sensação esquisita. Sempre acontece nesses casos. É meio dó, meio melancolia, meio felicidade. Mas como três meios são mais que um inteiro, continuo sem entender o que é isso ao certo. O mesmo acontece em outras situações. Como quando escuto "Mais de mil palhaços no salão", sabe, aquela música de carnaval linda?

Toda vez que aparece algo bonito e sutil, mas meio resignado, me causa uma sensação entre o alegre e o triste. Uma espécie de alvorecer de sentimentos, que não é noite, nem dia. É aquilo.

Não sei se, de repente, eu queria no fundo que ela fosse mais feliz, bem-sucedida e não estivesse sujeita a esses julgamentos rasos só porque seu histórico estético-psicológico não a favorece. Nem que dependesse de um bando de pessoas estúpidas, com poder de decisão para ser reconhecida e feliz.

É estranho. E como aprendi uma vez, o que nos causa estranhamento tem que ser discutido, posto em evidência - de repente até virar uma boa pauta. Ou uma boa sessão de terapia. Depende sempre do tratamento que damos às coisas. De qualquer maneira, fiquei muito feliz com o caso da Susan Boyle. E torço para que seu sucesso a deixe mais feliz. É uma maneira de lidar melhor com essa sensação que sinto, mas não entendo.

quarta-feira, abril 22, 2009

Parábola da vida

Entreouvi por aí a história de Sebastião.
Homem trabalhador, encarava a vida de frente. Mas tinha um buraco em seu caminho. Ou em seu caminho tinha um buraco, como preferir o poeta modernista. Um buraco mesmo, no sentido literal. Um tanto fundo, mas que não chegava a machucar por se cair nele.

E todos os dias, na volta do trabalho, lá estava o buraco, por vezes com água empoçada, por vezes seco. Sua presença era tão certa quanto a de Sebastião perto das seis da tarde. Isso não chegaria a ser um problema se Tião não caísse no tal buraco todos os dias, invariavelmente. Ele ia andando pela rua como quem não tivesse rumo, mas que soubesse pra onde ia. Mas sempre caía no buraco. Não sei se esquecia, ou se se esquecia de lembrar de ontem e daquele acidente no meio do asfalto. O fato é que pisava mais fundo sempre que voltava do trabalho, sempre no mesmo lugar, geralmente no mesmo horário, todos os dias, como se não conhecesse o caminho.

Mas um dia ele passou a notar que, de fato, caía no buraco todo santo dia - mesmo nos dias menos santos. E então passou a se estranhar com aquele rombo. Quase o humanizou para poder jusificar a si mesmo a antipatia por um simples acidente no asfalto. Mas ainda assim, mesmo demonizando aquele bicho ruim, Tião caía no buraco. Sujeito simples, se esconjurava todo dia, na mesma hora. A hora em que tropeçava no dito-cujo.

Mas um dia, assim de repente (e não mais que de repente), beirando as seis da tarde, ele notou o buraco logo antes de cometer a pisada mais funda habitual. Resvalou naquele troço, mas teve força e agilidade pra desviar. Foi simples assim. Tião se livrou de alguma coisa que não sabia bem o que era e onde ficava, e passou a desviar do tal buraco com tal destreza que os outros pedestres começaram a prestar atenção no problema. Daí para a Prefeitura ser chamada e tapar o buraco, foi um pulo - com o perdão do trocadilho.

E Tião seguiu naquele compasso, meio sem rumo mas com a certeza de onde ia, caindo em novos buracos. Uns maiores, outros menores. De alguns, desviou de primeira, de outros precisou se esforçar um bocado. Mas o importante é que ele não deixou de andar por novas ruas, nem se intimidou pelos acidentes de percurso. E assim viveu a vida, tropeçando aqui e ali, em busca de uma rua (podia mesmo ser uma viela, ele não era exigente), onde não houvessem buracos e o asfalto fosse liso, lisinho, tão liso que o fizesse sentir-se andando em nuvens. Depois disso, Sebastião voaria.

sexta-feira, abril 17, 2009

Lula no South Park

Nunca gostei muito de South Park, mas o episódio com o Lula e outros líderes mundiais é muito bom! Assista aqui (é só clicar em "Pinewood Derby"). Começa com uma simples corrida de carrinhos da qual o Stan participa e tem como saldo a destruição da Finlândia e o banimento da Terra do Universo...

Muito bom!

quinta-feira, abril 16, 2009

Os senões do suicídio

Existem assuntos e assuntos. Há aqueles atrás dos quais nós nos embrenhamos, e há temas que aparecem no nosso colo, sem que a gente queira ou planeje. Essa semana veio um de maneira tão incômoda quanto ele próprio. Suicídio.

A forma como apareceu, o contexto do caso, tudo conspirou para eu refletir um pouco sobre o tema. Até que ponto alguém sabe o que faz quando se suicida? Ele tem direito de fazer isso? E quem fica, como fica? Tudo isso me percorreu a cabeça nessa tarde, e confesso que estou convicto de poucas coisas.

Uma delas, talvez a única, é a de que o suicida não tem o direito de fazer isso se levarmos em conta quem o rodeia. É um pensamento egoísta de quem está por perto? Pode ser, tanto quanto me parece egoísta desistir de tudo porque as coisas vão mal. Digo isso sem saber o que é estar nesse limiar, perturbado pelo que quer que seja.

Não sei. Não sei mesmo o que pensar disso. Para mim é difícil entender por que as pessoas são tão extremistas (algo que, por um distanciamento muito feliz, não consigo imaginar, mesmo). E mesmo depois de escrever aqui no MIRIM, o tema permanece indigesto.

De qualquer maneira, uma matéria da Época (de fevereiro desse ano, leia na íntegra aqui), vencedora do Prêmio Esso de Jornalismo – e do 1º Prêmio Editora Globo de Jornalismo –, foi um tanto redentora (quase catártica) nesse momento. Fala sobre casos de suicídio de jovens incentivados por anônimos na internet. O fio-condutor é a história de um garoto de Porto Alegre que registrou e tramou sua morte online. De despedida, ele deixou uma carta e alguns posts. Relato tão duro quanto o que tomei conhecimento hoje, que rolou offline, mesmo – e que me fez sentir impelido a tratar do tema por aqui. Pronto. Falei.

Nova fase

Comecei O Mirim no segundo semestre de 2006, meio que por incentivo externo, meio que por uma vontade minha, também. Mas nas trocas de computador, nos começos, meios e fins de trabalhos a coisa foi descanbando, descanbando e descambou mesmo.

Então, agora que as coisas estão mais confortáveis, resolvi retomar o blog. E nada melhor do que comemorar a ocasião com um belo lifting. Cortei as gordurinhas incômodas, tirei a palidez, coloquei uma imagem simpática, mudei o "motto"do blog para algo mais a ver com o que quero fazer daqui pra frente. Escrever sobre as coisas do dia a dia, mas também dar vazão aos pequenos ataques ficcionais (como esses últimos dois posts).

Para ficar mais "antenado" (essa não é a melhor palavra, mas ok), minhas atualizações do Twitter podem ser conferidas logo ao lado. Mesmo porque ajuda a dar uma dinamizada pro negócio todo. Espero que com as mudanças, aqui seja ponto de encontro online dos amigos!

Bem-vindos, mais uma vez, todos nós!