sexta-feira, novembro 26, 2010

Crônica de uma sexta-feira vermelha

Hoje o dia foi corrido. Agradável e ao mesmo tempo incômodo.

De manhã, acordei ao lado de quem amo, parti para uma entrevista muito bacana e terminei a manhã almoçando com um amigo querido, num restaurante igualmente agradável.

Cheguei à redação, paguei minha passagem das férias (um achado, pelo que paguei), fiz mais algumas entrevistas, contatei outras pessoas que precisava, troquei e-mails importantes, para adiantar a semana que se aproxima.

Enquanto fazia tudo isso à tarde, descobri uma maneira de me concentrar e, ao mesmo tempo, me manter informado: TV transmitida em tempo real na web. Bacana. Mas aí o incômodo começou a bater. A tragédia no Rio tá demais. Demais mesmo. Assim, do tipo que incomoda mesmo a 400 km de distância.

Aí eu comecei a ficar assustado - e não com tiros, mortes ou crimes. Comecei a questionar essa cobertura complacente que se vem fazendo por aí. O tom da imprensa é algo na linha: "nossos bravos guerreiros finalmente estão vencendo estes vis meliantes". Logo lembrei de um tuíte do @bomdiaporque: "Nada como uma guerra urbana pra revelar aquele fascistinha que tem dentro de você."

Daí cada um solta o Arnaldo Jabor que vive dentro de si nessas horas. Até os nossos colegas. Longe de mim apontar o dedo para alguém. De repente no lugar deles, na correria, eu também me deixaria levar por essa maneira de enxergar as coisas. Lembrei também de uma coisa que o Camilo Vannuchi me disse certa vez sobre matérias de política: imprensa sempre tem que ser do contra, sempre tem que bater nos políticos. Estamos vendo ela bater. Bater pesado. Mas bater a favor do BOPE, do Sérgio Cabral, dessa gente toda.

Saí da redação com isso em mente. Entrei no carro, dei partida e liguei o rádio, em ato contínuo. Sintonizado na CBN, como de praxe, escuto:

- ...o fotógrafo Paulo Whitaker, da agência Reuters, foi ferido no ombro. Ele seguiu para um hospital da região.

Como aprendi na faculdade, a notícia é mais impactante quando os personagens são nossos conhecidos. Eu já entrevistei Paulo, para o #CentroAvante. O tema? O crack. Em junho, ele fez a reportagem multimídia Cracolândia (leia mais aqui). Ele defendia a legalização da droga para que os usuários traficassem menos entre si e pudessem ser acompanhados de perto. "Uma teoria meio maluca", me disse ele.

Maluco, Paulo, é o que a gente está vendo. Mas parece que é isso aí, mesmo. A zona sul continua na bolha, pirotecnia dá audiência e pobre não compra jornal.

As coisas só fazem menos sentido para mim agora.

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