quarta-feira, abril 29, 2009

A força do personagem

Ontem assisti à uma palestra esclarecedora. Uma das melhores que já vi; certamente a mais instrutiva de que tenho notícia. Era com a Eliane Brum, repórter da Época. Basicamente, foram duas horas e meia de conversa sobre como mostrar grandes personagens sem resvalar no clichê. E não me refiro a celebridades, artistas ou qualquer ser que esteja presente nas páginas de revistas de fofoca. São os ilustres desconhecidos do cotidiano, tão bem registrados por ela.

Mas o que mais me chamou atenção é que a capacidade de encontrar boas histórias está intimamente ligada à disponibilidade de quem as conta. Ou seja, o repórter (ou quem mais queira contar uma história, num sentido mais amplo) precisa estar disposto a entrar em contato com o outro.

E estar em contato com o outro é se colocar em contato consigo mesmo. Como disse Eliane, poeticamente, "temos que estar abertos ao espanto". Temos que confrontar nossas fissuras; é um constante se colocar em xeque. É quase uma terapia. E aí é possível entender o que ela dissera um pouco antes: "Só quem é frágil e finito pode contar histórias". Faz sentido.

Ficou claro, também, que boas histórias acabam sendo contadas por pessoas boas, no sentido mais amplo da palavra. Não me refiro só a competência, nem só técnica. São importantes, mas muito fáceis de se adquirir se a compararmos aos sentimentos que algumas pessoas mostram, mesmo sem se deixar ver.

Pessoas que não precisam de credenciais para entrar na casa dos mais simples cidadãos e ouvir suas histórias. Pessoas que dizem mais pelo que são do que mostram ser. Pessoas que conseguem enxergar além. Por fim, uma alegoria ótima para se começar a quarta-feira, citada por Eliane: "O cotidiano é uma catarata que nos cega dia a dia".

Fica, além de um bom dia, o desejo sincero de não querer se cegar pela catarata do dia a dia. E, cada vez mais, conseguir contar boas histórias, grandes histórias, de pessoas que nos parecem pequenas, miúdas, mas que acabam se tornando grandes lições de vida. Sem cair no clichê, nem soar piegas.

2 comentários:

fê guimarães disse...

obrigada por me linkar junto AOS MAIORES veículos de mídia impressa brasileira, rs!

beijos
fe

Anônimo disse...

"Uma vida só faz sentido para quem a viveu." - (A Vida Que Ninguém Vê - Eliane Brum). Clássico. Tocante.